segunda-feira, 30 de abril de 2007

Drowning
Por Ana Luisa Lima.


Eu cresci acostumada ao azul e ao frio profundos. Acostumei a pele. Devotei-me ao silêncio. Importava sentir aquela bomba em mim: tum-tum. Cada músculo do corpo latejando; respirações alternadas: duas braçadas: sim. Quando o cansaço: não. Mas o corpo procura ar, (nem) sempre sabe onde e como...

Acostumei-me ao sufoco, à ausência. Essa falta que contrai meu diafragma, e expande meus pulmões.


Aos dezoito deixei as águas... Aos vinte e um mergulhei: você.

Vinte sete e lhe perdi...

E eu lhe (me) perguntava: como? E se?

Desde então me debatia. Tudo o que tinha era sono.

Mas um dia desses uns olhos castanhos me atravessaram a carne. E eu decidi tentar outra vez. Quero que ele seja de novo o azul e o frio na minha tez. O silêncio que consegue me deter. Como há muito tempo não ouvia: tum-tum, tum-tum, tum-tum...

Tomara que ele não tema - a pele áspera.

Não resisti; ele tem o seu nome. Tem outro gosto...

Minha boca saliva.

Sede-de-ter-sede-de-ter-sede-de-ter-sede: de-ser-de.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Artigo indefinido. Por Ana Luisa Lima. Nada mais grave do que a ausência do pranto, do que o costume do nada. Tornamo-nos deuses e assassinos. Criamos uma (não) existência só nossa - uma suposta dimensão. Matamos nossas almas para a realidade sonora. Tudo o que temos é o silêncio - esporadicamente perturbado pelas agruras do tempo. Essas nossas poucas palavras trocadas. O parco. O frouxo. O atalho. O torto. O desconexo. O engodo. Algo em mim dói e não sofro. O meu café esfria diante de mim; eu preciso lhe dizer que “não”. Vontade de tocá-lo, beijar a ponta dos seus dedos, descansar meu rosto em suas mãos – como costumava fazer. Mas a verdade é que, além da estupidez dos meus escrúpulos, não há razão para o “não” - nem para o “sim”. A conta, a nota, a coisa não-falada...

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Underneath
Por Ana Luisa Lima.


O pouco de alma que tinha,
eu pus dentro de ti,
da parte tua que há em mim,
que é para não se perder.

Porque em ti me encontro, num abraço.
No teu colo.


Descanso.

Tu que me conheces por partes
e o todo.
Revira-me por dentro
e me aquece o corpo.
Conheces o hálito,
o hábito,
os meus jeitos de.

Tu que passeias em mim
com mãos ora dormentes
ora insanas.

Tu que não me amas se.
Tu me amas

apesar de.
Sem pesares.


E basta o teu corpo em mim
que eu te digo: sim.
Deita. Entra. Fica.


Pesa.

Tua epiderme na memória.
E a minha pele dorme (sonha) quando não estás:
molha
como se

(tu)

ainda.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Ana Rocha
Por Júlia Rocha.

Na memória
De minha pele
Gravei teu nome:
Riso
Saudade
Carinho
Presença -
Ainda que ausente,
Em outro corpo
Que não nós.

Na tua pele
Me sou
E me és
Em minha pele...
Te fazes
E me dou.

E nessa pele
Que é minha
E te faz [,]
Amor [,]
Sou ti,
És mim:

Nós,
Dois corpos,
Tão distintos
E separados,
Formando um
Único ser
Na.Rocha
De nossa Lua
Imaginária.


[amo-te
amando-me
na memória
de:
minha
tua
nossa


pele.]


Porque na memória de nós, epiderme entregue...