quinta-feira, 24 de maio de 2007

Cinzas
a Ju Rocha.
Por Ana Luisa Lima.



Ela passou longo tempo sentada no cantinho do terraço que dá para o quintal à espera do quem-sabe-o-quê-?. O relógio fazia o seu trabalho. Marcava o tempo. Mas ela, anacronicamente, em outro mundo, viu seus olhos pesarem. Já sabia, seu olhar se tinha tornado um pouco mais negro.

O semblante caído era o de menos. Tudo que queria era fazer a dor parar. Uma falta de ar. Uma exasperação sem fim. Sem motivo: por aquele motivo de sempre: a falta (dele?).

Seus esforços eram para lembrar os dias de carnaval. Os dias em que a alegria, ainda que fosse uma mera alegoria, preenchia. Queria fazer aquela sensação voltar. O beijo anônimo. O braço dado com o desconhecido. Era o amor inventado – forjado. Mas era. Fantasia, com todos os brilhos e adereços, tornada realidade - pelo menos naqueles quatro dias.

O copo secou. Não pode se iludir: - Está meio cheio. Tudo é vazio: o copo, a alma. Tomou o vinho, ficou o torpor.

Viu a lua deitar e sol acender...

Um mal para uma criatura pálida. Ávida por sangue (vida), sedenta e impura. Sentir. Qualquer coisa ainda que. A angústia até o fim...

Nenhum comentário: